segunda-feira, 7 de maio de 2018

“O verdadeiro fotógrafo, como qualquer artista, deve escolher o caminho com o coração e nele viajar
incansalvemente. Absolutamente íntegro, sem propósito à alcançar, sem submissão à regras e
fórmulas, sem necessidade de parecer brilhante ou original. Só assim, autêntico e livre, pode captar o
espírito criador em movimento. Aquele que mergulha na viagem do ver tem que estar com as portas
da percepção sempre abertas, saber que diante do eterno precisa esquecer de si próprio. A criação
é o que importa, caminho de conhecimento, poderosa arma de encontrar o mundo. O ato criativo é
contínuo e sem fim, a prática sempre renovada de contemplar humaniza a visão, anula verdades,
permite a inventividade, realça o eu interior. A recompensa é a experimentação mística do encontro
com a beleza. O fotógrafo sente, neste momento fugaz, algo parecido com o satori zen budista, um
momento de revelação, um indefinido e maravilhoso prazer. Nessa respeitosa relação consigo mesmo,
o fotógrafo cria algo de original com espontaneidade e fluência, o observador se confunde com a coisa
observada, o vazio se instaura, o que estava contido volta a pulsar, o que antes era pressentimento
agora é realização. A pureza do seu diálogo, por mais fotos que faça, por mais poeira que tire dos olhos,
continuará andando solitário com sua câmera, mas ele também sabe que esta aprendendo outra arte
bem maior, a arte de não ser coisa alguma, de não ser mais que o nada, de dissolver a si próprio no
vazio entre o céu e a terra.” Fernando Pessoa

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